Os médicos,
invariavelmente, alvejam seus pacientes como indivíduos apsíquicos, assim como
os professores, invariavelmente, fazem com seus alunos. O que quero dizer, está
no livro do Tallaferro de Psicanálise,
é que os médicos não levam em conta o psíquico do sujeito para tratar seu corpo,
seu estado geral, até a sua organização do discurso. Ora, o poder do psiquismo
é enorme sobre o corpo. Pacientes convencidos, por hipnose, que estão sendo
tocado por uma barra quente (que, no entanto, está fria), chega a formar
bolhas, ou seja, autodesenvolvem queimaduras de segundo grau. Que outra prova
querem do poder do pensamento?
Os professores também tratam seus alunos como pessoas apsíquicas e não
levam isso em conta para envolvê-los na aprendizagem, na hora de aplicar suas
provas, medir sua aprendizagem e conversar sobre eles no conselho de classe. Apesar
de provavelmente reconhecer que cada aluno é único, se sentem incomodados de
não se permitirem esse pensamento, talvez pela nossa própria incapacidade profissional.
Também existe nessa relação, o intersubjetivo, derivado da transferência e da
contratransferência entre os sujeitos: professor e aluno. Quando algum aluno “tocar”
no recalque íntimo do professor, ainda que inadvertidamente, o aluno estará “morto”
para aquela disciplina. E o contrário, também acontece. Quando alguma questão
dessa é revelada, torcem o nariz, investem em fatos concretos, acreditam em
suas anotações sobre o aluno. E, ademais, parecem-me que então estão corretos:
são incapazes de qualquer poder de julgamento eficaz, para além de suas
anotações estáticas. Sem esse poder, sem essa capacidade, por que julgam?
Defendo então o
que de mais justo deveria ser feito nesse momento: não julgar. Ora, defendo,
por conseguinte, que a educação seja um ato contínuo, de encaminhamento próprio
e que interrompam definitivamente esses dispositivos coercitivos chamados de
reprovação e recuperação. Deixem o menino avançar! Deixem a menina seguir o
tempo dela! Educação é ato contínuo, definida de maneira própria e não pela
tutela coercitiva do estado. Nós, professores, não temos capacidade de julgar
ninguém. Muitos de nós, não conseguimos nem ter uma visão aproximada de nós
mesmos... A saída é democratizar a educação, a partir dos alunos. Simples assim.
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