O brinquedo é menos importante. O mais importante é a brincadeira. Os pedagogos “modernos”
acham que cada vez mais, a brincadeira é supérflua. Muitos acham sadio e atual
que a alfabetização seja antecipada e que brincar é uma bobagem antiga. E
muitos pais se queixam quando pagam para que o seu filho vá para a escola para
brincar, e escuta na roda de amigos, que na escola do filho desse amigo, o
menino já aprende coisas e até prova já tem.
Argh!!!!
Vou chamar Vigotski
para a conversa.
Quando pequeno,
peguei um tabuleiro de um jogo qualquer e fiz de botões de roupa da minha mãe,
os carros de fórmula 1. Os dados eram lançados e os carros partiam. Para
representar a diferença entre uma equipe rápida (na vida real) e uma equipe
lenta, criei um dispositivo de que o maior número possível para deslocamento do
botão no tabuleiro, após o lançamento do dado, era três, quando era a vez das
equipes lentas; mesmo quando o dado apontava mais que isso (quatro, cinco ou
seis), a equipe lenta andava três casas; enquanto isso, as equipes rápidas
andavam o tanto que o dado mostrava. Eu narrava as corridas, com empolgação.
Também fazia a temporada toda, com corridas em vários lugares do mundo. Eu
também explicava, falando sozinho, como se fosse o narrador da TV, tudo o que
acontecia. Até explicava na introdução da corrida, um pouco sobre o país onde a
ela se dava. Sem sair do meu quarto, como os botões da Dona Teresinha, eu
viajava pelo mundo.
A brincadeira é um
ato para levar a criança para além de si. O importante desse processo,
entendam, não é o brinquedo e sim o que se faz com ele. Se um pedaço de pau é
um rei e uma garrafa de água vazia é sua caravela é isso que é importante. Não
é o acabamento do brinquedo que acentua a aprendizagem e a elevação do
desenvolvimento, mas o significado que a criança dá para ele. O objeto não é o
objeto e sim a projeção imaginativa infantil. O desenvolvimento deve ser visto
como prospectivo e não retrospectivo. Deixem a criança criar sua história,
inventar, deixem nossas crianças brincarem. Brincando se aprende, aprendendo se
desenvolve.
Quem
é supérflua não é a brincadeira, são os pedagogos que não acreditam nela.
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