domingo, dezembro 03, 2017

A querela entre Piaget e Vigotski

O brinquedo é menos importante. O mais importante é a brincadeira. Os pedagogos “modernos” acham que cada vez mais, a brincadeira é supérflua. Muitos acham sadio e atual que a alfabetização seja antecipada e que brincar é uma bobagem antiga. E muitos pais se queixam quando pagam para que o seu filho vá para a escola para brincar, e escuta na roda de amigos, que na escola do filho desse amigo, o menino já aprende coisas e até prova já tem.
            Argh!!!!
            Vou chamar Vigotski para a conversa.
            Quando pequeno, peguei um tabuleiro de um jogo qualquer e fiz de botões de roupa da minha mãe, os carros de fórmula 1. Os dados eram lançados e os carros partiam. Para representar a diferença entre uma equipe rápida (na vida real) e uma equipe lenta, criei um dispositivo de que o maior número possível para deslocamento do botão no tabuleiro, após o lançamento do dado, era três, quando era a vez das equipes lentas; mesmo quando o dado apontava mais que isso (quatro, cinco ou seis), a equipe lenta andava três casas; enquanto isso, as equipes rápidas andavam o tanto que o dado mostrava. Eu narrava as corridas, com empolgação. Também fazia a temporada toda, com corridas em vários lugares do mundo. Eu também explicava, falando sozinho, como se fosse o narrador da TV, tudo o que acontecia. Até explicava na introdução da corrida, um pouco sobre o país onde a ela se dava. Sem sair do meu quarto, como os botões da Dona Teresinha, eu viajava pelo mundo.
            A brincadeira é um ato para levar a criança para além de si. O importante desse processo, entendam, não é o brinquedo e sim o que se faz com ele. Se um pedaço de pau é um rei e uma garrafa de água vazia é sua caravela é isso que é importante. Não é o acabamento do brinquedo que acentua a aprendizagem e a elevação do desenvolvimento, mas o significado que a criança dá para ele. O objeto não é o objeto e sim a projeção imaginativa infantil. O desenvolvimento deve ser visto como prospectivo e não retrospectivo. Deixem a criança criar sua história, inventar, deixem nossas crianças brincarem. Brincando se aprende, aprendendo se desenvolve.
            Quem é supérflua não é a brincadeira, são os pedagogos que não acreditam nela.

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