Pau que nasce torto, nunca se
endireita. Filho de peixe, peixinho é.
Será?
O comportamento humano é assunto de
interesse da biologia, medicina, filosofia, antropologia e psicologia. Em meus
recentes mergulhos na neurociência, não pude evitar de deparar-me com a ideia de
que a compreensão do comportamento é atributo exclusivo da neurociência. Quando os neurocientistas são
contrariados, as dúvidas são explicadas com a possibilidade: a falta da
evidência não é a evidência da falta. Por exemplo, se uma pessoa qualquer
perguntar: o que é o riso? O riso é um produto orgânico, como a lágrima? Ele
está em alguma parte do nosso cérebro? Há o centro do riso? Hipocampo?
Amígdala? Tálamo? Os neurocientistas “estritos” reagem: “talvez esteja
escondido em algum giro não completamente estudado, ou esteja em alguma área já
estudada e tenha ainda nos passado
despercebidos. Alguém resolverá.” No livro do neurocientista Ramachandran, o
recente “O que o cérebro tem para nos
contar?”, ele trata de atacar as ciências humanas, em particular a
filosofia e psicanálise (tendo como alvo principal, seu “criador”, Freud). Aliás
essa tendência, tem sido comum a ponto de levar uma psicanalista contemporânea,
Elisabeth Roudinesco a escrever o livro: “Freud - mas por que tanto ódio?” e “Em defesa da
psicanálise”. Stephen Hawkins, celebrado
no cinema e na festa do Oscar (“A teoria de tudo” ), sentenciou: “a
filosofia morreu.” O arquiinimigo autodeclarado das ciências humanas poderia
ser David Stamos em seu “Evolução e os
Grandes Temas – Sexo, Raça, Religião e outras questões”, um livro pra lá de
perigoso. Ele ironiza o tempo todo o que é chamado de “construção social”. Em
todos, uma bandeira: as ciências humanas não explicam nossa mente.
Não estou certo disso.
Como não disponho de muito tempo,
divido um exemplo rápido. Em 1920, a expectativa de vida do portador de
Síndrome de Down era de 10 anos de idade. Atualmente, essa expectativa está
acima de 60 anos. E não é só uma questão de longevidade: é também de qualidade
e inserção social. O que mudou? Foram apenas os avanços metodológicos e na
compreensão da síndrome? Ou ainda: a síndrome por si só se atenuou? Ou podemos
pensar: há outras variáveis, no entorno do comportamento social, antes desconsideradas
ou subconsideradas, que dividem com a expressão gênica e os avanços médicos, o
mérito da nova longevidade e de uma nova vida para os portadores?
Não podemos mudar os genes, simples
assim, como muitos sonharam (e ainda sonham). Mas podemos alterar de modo producente
o meio social e permitir um novo comportamento humano, em busca da ética, do
humanismo e da cultura. E para isso, precisamos de estudiosos e pensadores das
ciências humanas. Eles são nossos pares; não nossos adversários.
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