A contribuição de teorias da
psicologia para o desenvolvimento humano é fundamental para a compreensão do
que é ensinar, o que é aprender e como isso deve ser feito. Sem essa
compreensão, ensinar é meramente cumprir 45 ou 50 minutos de um programa
pré-estabelecido por alguém, no seu espaço escolar. Ensinar é mais que isso.
Vygotsky
salienta o incrível papel que o professor tem no processo de desenvolvimento do
aluno. O cérebro é um sistema aberto, fisiológico, genético mas de grande
plasticidade. Assim, elementos intermediários entre o sujeito e o mundo detonam
seu desenvolvimento. O desenvolvimento se dá de fora para dentro, a experiência
leva à substituição de signos e contexto sócio-histórico vygostskyano explica
uma profusão de questões. Quando o país tem fortes questões sociais a serem
resolvidas é possível que ele obtenha notas altas nos exames internacionais que
busquem compará-lo com outras realidades? É possível comparar jornalisticamente
a escola pública e a privada, a urbana e a rural para “ranquiá-las” e
conduzirem-nas para a glória ou o ostracismo? O grupo cultural é o fio condutor
do desenvolvimento. Não estamos aqui relatando um caso de determinismo social
até porque esses aspectos dizem respeito além do pai ou da mãe que se tem, mas
de um contexto que, embora mais amplo, particular.
Vygostsky
esquenta uma discussão para a qual as respostas são outras perguntas. Será que
há limite para aprender? Será que todos querem aprender? Será que a discussão
de ser mais ou menos capaz deve ser centrada no sujeito, no meio ou na
interface entre os dois? Há diferença entre o desenvolvimento real e potencial?
Por tantas vezes, escutei em conselhos
de classe: “vamos aprová-la... Ela está no limite dela...” Do que estamos
falando? Os colegas estão corretos?
Por
fim, Vygostsky traz a luz uma situação que me fez lembrar ardentemente um livro
que leio, “Como a mente funciona” de Steven Pinker. No livro, Pinker afirmar
categoricamente que nunca conseguiremos fazer um robô que substitua um ser
humano. Para ele, por questões técnicas, para Vygostsky porque as relações
interpessoais são fundamentais para a aprendizagem. Estou com os dois.
Piaget
afirma que buscamos equilíbrio. Combina com leis físicas de entropia. Não pretendendo reduzir uma teoria tão
importante ao universo físico, Piaget declara que os equilíbrios são atingidos
porém mudados. Lembro-me de um trecho do livro “Genética” da Dra. Mayana Zatz
em que coloca “tenho um pôster de uma macaco coçando a cabeça e dizendo:
‘quando aprendi todas as respostas, eles mudaram todas as perguntas’.” Isso
gera um desequilíbrio que é gostoso. Precisamos ensinar para os alunos o quanto
isso é bom, positivo e produtivo.
As
etapas propostas por Piaget para o desenvolvimento humano deveriam ser mais
levadas a sério. A construção do conhecimento, segundo ele se dá em quatro
fases. A fase sensório-motora (até 2 anos), a pré-operacional (de 2 a 7 anos),
a operatória-concreta (de 7 a 12 anos) e a operatória-formal (adolescência). O
caráter diferente em cada uma delas mereceria maior compreensão por parte de
quem faz escola – corpo diretivo e corpo docente. Se Piaget está certo em suas
colocações, um aluno de sexto ano (11 anos) não deve ser tratado no mesmo
segmento que o aluno de oitavo ano (13 anos), por exemplo. Mas o aluno do nono
ano deveria ter tratamento mais próximo do aluno do ensino médio. A segmentação
que ora foi estruturada pela LDB e seguida por todos já ampliou seus debates
sobre os diferenciais norteadores de cada processo de ensino-aprendizagem? E os
professores? Eles sabem que a condução de aulas e avaliações deve ser
diferenciada para as diferentes fases? Por exemplo: o aluno de sexto ano não
tem grande capacidade de abstração. Ele opera de forma mais concreta. Uma
questão de prova do tipo “esquematize um experimento que será um desastre. Mas
é uma questão pertinente ao olhos de um aluno do ensino médio. Ou deveria. O
aluno na última fase apresenta pensamento hipotético-dedutivo. Essa critica é
extensiva para os livros didáticos. Não vejo essa preocupação na maioria deles,
com o momento do aluno que irá manipulá-lo.
Wallon
traz a tona uma discussão importante: a flutuação do aluno, entre avanços e
retrocessos em seu processo de aprendizagem. Quantas vezes não nos demos conta
de que determinado aluno “mudou”. A integração funcional de Wallon responde a
essa pergunta no que diz respeito aos momentos afetivos e cognitivos que nossos
alunos atravessam e vivem dessa síntese com a bela frase de Dantas: “a razão nasce
da emoção e vive de sua morte”. Linda.
Ausubel
é visceral no que diz respeito ao tratamento dado ao conteúdo programático
trabalhado em sala de aula. O conteúdo escolar deve ser potencialmente
significativo par ao aluno. A ausência de significância leva ao descaso, à
ociosidade, à indisciplina, à evasão e à reprovação. O aluno deve estar
motivado a aprender. A condução do professor é importante nesse sentido mas a
seleção do conteúdo a ser tratado deve caminhar em comunhão à dedicação dos
educadores.
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