segunda-feira, novembro 10, 2008

Mundo sustentável


A questão ecológica hoje tem caráter multidisciplinar. É uma questão técnica mas, também, uma questão de cidadania. Um mundo sustentável é um mundo de crescimento responsável, com o devido respeito aos limites dos ecossistemas, para as próximas gerações tenham direito às condições que outrora, seus antepassados desfrutaram.

No Brasil e no mundo, soluções brotam para garantir um mundo sustentável. Entre muitas soluções, algumas chamam nossa atenção. O que fazer com o esgoto doméstico. Uma solução ecologicamente viável é a do biodigestor. O biodigestor é um equipamento que utiliza bactérias para degradar a matéria orgânica – fezes provenientes das casas – liberando biogás, ou seja, metano.

Projetos interessantes, como um realizado em Petrópolis (RJ), conseguem resultados interessantes. As bactérias metanogênicas, isto é, consumidoras de matéria orgânica e produtoras de metano, conseguem reduzir muito a volume do esgoto. Bactérias são organismos invariavelmente microscópicos, com células procariotas, com parede celular e núcleo ausente. Há uma falsa impressão de que bactérias são sempre maléficas. Não é verdade. Muitas são importantes como as recrutadas nos biodigestores.

E os benefícios não param por aí. Estudos mostram que o processo exercido pelas bactérias reduz em 99% os ovos de esquistossomo, um platelminto de importância clínica. Os platelmintos são vermes achatados, de simetria bilateral, com sistema nervoso rudimentar e digestório incompleto, ou seja, apenas com boca. Inclui também as planárias e as solitárias (ou tênias). A esquistossomose é a doença causada pelos esquistossomos e é um problema de saúde pública no Brasil. Conhecida como doença do caramujo porque apresenta esse molusco como hospedeiro intermediário. Os ovos na água liberam uma primeira forma de larva, ciliada, chamada de miracídio. Os miracídios penetram no caramujo e foram um segundo tipo de larva chamada de cercária. As cercárias nadam livremente e penetram pela pele de pessoas que entram em contato com a água contaminada. E coça. A população diz: "se nadou e depois coçou, é porque pegou." Passando para a corrente sangüínea, atingiram a fase adulta na região do fígado. Geram ovos, lançados no intestino, liberados pelas fezes do portador humano, seu hospedeiro definitivo. A esquistossomose também é conhecida como barriga d'água porque causa aumento de volume abdominal. Pode ter complicações de fígado e baço e pode ser fatal.

Um pequeno parênteses: você sabe a diferença entre hospedeiros intermediário e definitivo? O hospedeiro intermediário é aquele em que o parasita não se reproduz no ciclo dele ou reproduz apenas de forma assexuada. O hospedeiro definitivo é aquele onde o parasita realiza a reprodução sexuada.

Voltemos ao biodigestor. Eles podem fazer parte de um verdadeiro biossistema de tratamento do esgoto. Com medidas simples, muitos organismos podem ser associados ao projeto como algas, plantas, peixes e aves.

Um pouco de cada grupo. As algas são organismos do reino Protoctista. Podem ser uni ou pluricelulares. Estão organizadas em oito filos. Todos os grupos apresentam clorofila, são portanto autótrofas, apresentam parede celular (exceto as euglenófitas) e são eucariotas. Diferenciam-s essencialmente das plantas porque não apresentam tecidos verdadeiros. São, por isso, chamadas de talófitas.

As plantas são organismos pluricelulares, autótrofos, com parede celular, eucariotas e formadoras de tecidos. Seu reino, o Metaphyta ou Plantae, inclui 12 filos. Entretanto, dizemos que há quatro grupos vegetais: briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas.

As briófitas são representadas pelos musgos. São plantas de pequeno porte, devido a ausência de vasos condutores de seiva e de tecidos de sustentação a base de lignina. Não possuem flores, sementes e frutos. São dependentes da água para a reprodução sexuada ocorrendo em ambientes úmidos e sombreados. A necessidade da água decorre do fato de os gametas masculinos, os anterozóides, serem flagelados tendo obrigatoriamente o meio aquoso para atingir o gameta feminino, a oosfera.

As pteridófitas são exemplificadas pelas samambaias e avencas. São de maior porte que as briófitas porque apresentam vasos condutores de seiva. Não apresentam flores, sementes e frutos. São dependentes de água para a reprodução.

As gimnospermas são representadas principalmente pelos pinheiros, a araucária do sul do país, por exemplo. São vasculares e podem atingir grande porte, dezenas de metros de altura. Não necessitam de água para a reprodução. Apresentam polinização, ou seja, o pólen sai dos cones masculinos e atingem os cones femininos. Formam sementes mas não têm flores e frutos.

As angiospermas são as plantas predominantes no planeta, com mais de 250.000 espécies. São vasculares e não dependem de água para a reprodução. A polinização está presente e ocorre de maneira mais diversificada, e não só pelo vento, como nas gimnospermas. Apresentam flores e frutos. Estão aqui jabuticabeiras, mangueiras, a cana-de-açúcar e as palmeiras.

Retomemos a linha central do livro. Entre outras discussões articuladas pelo autor estão problemas como o déficit de saneamento básico no país. Vírus e bactérias se aproveitam da falta de estrutura em algumas cidades e entornos aqui no Brasil para formar uma triste estatística. Muitas doenças acabam matando, particularmente as crianças, porque proliferam na água não-tratada. São os casos das bacterioses cólera, leptospirose e febre tifóide. E as viroses, hepatite A e rotavirose. Bactérias e vírus diferem entre si basicamente pelo fato de que as bactérias são organismos celulares, ainda que procariotos enquanto os vírus são organismos acelulares, sem metabolismo próprio.

Os vírus são todos parasitas. São organizados de forma simples com uma capa protéica envolvendo um filamento genético podendo ser DNA ou RNA. Há apenas uma exceção, o citomegalovírus que apresenta os dois tipos de molécula simultaneamente.

A obra mostra uma preocupação com o tema da biodiversidade, ou seja, a riqueza de espécies. O Brasil é um dos cinco países considerado como mega-diverso por apresentar incontáveis espécies. Temos entre 15 a 20% das espécies de todo o planeta. A preservação de todas elas depende de políticas sérias que passam, por exemplo, pela presença de reservas ecológicas, ainda que particulares – as chamadas RPPN ( reserva particular do patrimônio natural).

Uma jornalista comenta da beleza de ter uma RPPN. Destaca a variedade biológica usando os nomes de espécies nacionais. São da classe dos répteis como o teiú, uma espécie de lagarto. São da classe das aves, como o jacu, o sanhaço ou a saíra. São da classe dos mamíferos, como a capivara.

A biodiversidade é importante mas cada macaco no seu galho. Espécies invasoras podem significar muita confusão. E alterações irreversíveis no ecossistema. Muitas das bioinvasões são não-intencionais e nem por isso, descomplicadas.

Água de lastro. Chama-se assim a água usada para preencher os navios vazios de carga para se equilibrar durante a viagem. O problema é que a água bombeada em um oceano é descarregada a centenas de quilômetros dali, em regiões com composição de espécies bem distinta. E os navios são presença constante nos mares do mundo. Hoje, cerca de 80% das mercadorias no mundo são transportadas por navios. Junto das mercadorias, algumas presenças "clandestinas".

Vírus, bactérias, protozoários, cnidários, moluscos e equinodermos. Você conhece todos esses grupos.

Vírus e bactérias já foram apresentados. Os protozoários pertencem ao reino Protoctista. São organismos unicelulares, sem parede celular. Muitos têm vida livre, outros são causadores de doenças como malária, doença de Chagas e leishmaniose.

Cnidários, a exemplo de moluscos e equinodermos, são animais. Os cnidários são animais com poucos sistemas cuja marca registrada é a presença de células tóxicas em sua superfície. São os corais, as anêmonas e as águas-vivas.

Os moluscos são animais de corpo mole, com vários sistemas, apreciados na culinária, como lulas e polvos. Incluem muitas espécies ficando apenas atrás dos artrópodos. Estão aqui também as ostras, os mexilhões, as lesmas e os caramujos.

Os equinodermos são animais com pele espinhosa. São todos marinhos, o que se testemunha pelos seus nomes populares: estrela-do-mar, ouriço-do-mar, pepino-do-mar, entre outros. Na linha evolutiva, estão próximos dos cordados – o filo de nós, seres humanos.

Meio ambiente é coisa séria. Energia, planejamento urbano, destinação adequada do lixo, transporte e poluição, água , saúde ambiental. Nossa preocupação deve ser urgente. E o autor, André Trigueiro, nos brinda com um grande número de fatos, opiniões e propostas concretas para um mundo melhor, um mundo sustentável.


Um comentário:

Anônimo disse...

Professor!! Parabéns pelo texto e obrigado pelo grande resumo que nos "obrigou" a ler ....

O ensino-anfioxo

Provavelmente todos os professores de biologia brasileiros vão morrer sem ver um anfioxo. Mas passam mais tempo falando de...