No Brasil, a história da dengue tem
sua retomada com a epidemia de 1986, no Rio de Janeiro, capital. Na época, eu
era estudante do segundo ano do ensino médio, em Valença, no interior do
Estado, a 150 quilômetros da capital. O problema não chegou lá. Hoje está. Quase
trinta anos depois, a situação é crítica. Todo o país está sujeito aos casos da doença. Ultrapassamos 1 milhão
de casos no ano passado. Mais de uma morte por dia. O que é a dengue e por que
não a controlamos?
A dengue é uma virose, causada por
cinco formas do vírus: DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4 e, recentemente descoberto, o
DEN-5. No Brasil, circulam as quatro primeiras formas. Trata-se de um vírus de
RNA (mas não um retrovírus!) transmitido pela saliva do mosquito fêmea da
espécie Aedes aegypti. O mosquito é
de origem africana, como se percebe pelo nome. Mas pode ser considerado
plenamente naturalizado, brasileiríssimo. A doença tem uma incubação de 7 dias
e período sintomático de 7 dias. Os sintomas desaparecem por auto-cura, haja
vista que não existem medicamentos específicos para o tratamento. Após esses
período, não se pega mais o mesmo vírus. Mas pode-se ter dengue pelas outras
formas, após um ano da doença.
O quadro comum da dengue é febre de
aumento súbito e dores no corpo. Podem haver pontos hemorrágicos na pele e na
língua mas não há motivos para preocupação. O paciente precisa ser hidratado e
ter a febre controlada. O vírus ataca células da medula óssea ocasionando
redução de leucócitos e plaquetas, o que aumenta os riscos hemorrágicos. Como
algumas medicações são facilitadoras de hemorragia, como o acetilsalicílico,
elas devem ser obviamente evitadas. A preocupação decorre da queda de pressão e
risco de choque. Esse paciente deve entrar em tratamento intensivo. Normalmente,
os casos graves ocorrem em portadores com outras morbidades, como doenças
cardíacas.
O vírus não está na água parada. O
perigo da água está na potência de funcionar como criadouro para novos
mosquitos. As fêmeas colocam seus ovos próximo de água parada, normalmente
pouco acima do nível do líquido. Esses ovos podem permanecer viáveis por mais
400 dias. Ao eclodirem, levam entre 7 e 10 dias para chegar até a fase adulta.
Como os mosquitos são insetos holometábolos, passam pelas fases de larva e
pupa, ambas aquáticas. Os vírus são adquiridos pela sucção sanguínea das
fêmeas, embora alguns mosquitos já nasçam com o vírus, fruto da transmissão
transovariana (cerca de 1%).
Os adultos se alimentam de material
vegetal mas a fêmea copulada, procura dieta proteica sugando o sangue humano,
preferencialmente. Dificilmente, o Aedes
ataca animais domésticos: ele é antropofílico. Tem pico de atividade entre 6 e
10 da manhã e de 4 a 6 da tarde. Portanto, não costuma atacar na hora do almoço
e muito menos à noite ou de madrugada.
Apesar de anunciadas tentativas, não
há vacina para a dengue.
Por que o Brasil não consegue conter
o avanço da dengue?
A dengue é uma doença que ultrapassa
os domínios da biologia e da medicina. A questão da dengue é multidisciplinar e
passa principalmente por políticas públicas permanentes, suprapartidárias e retro-avaliadas, educação da
população, consciência coletiva, e democratização de informações e de tomadas
de decisão. Apenas com um pacto social amplo e políticas de longo prazo e uma
ação coletiva para melhor ordenamento urbano, os números irão melhorar.
Pesquisei o quatro programas governamentais de 1997 até 2009, e apesar de eles
se substituírem no tempo, a curva epidemiológica da doença só aumentou. Ou
seja, todo esforço foi em vão. Dinheiro público mal gasto, inseticidas que
envenenaram o meio ambiente sem o devido resultado, pessoas mortas. Se quiserem mais detalhes, leiam: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/15318/1/2013_MarcelloVieiraLasneaux.pdf
Esse texto está disponível para download em: www.lasneauxcursos.com.br
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