domingo, abril 15, 2012

Avanço científico e seus dilemas


O avanço científico nos pegou de todos os lados. As comodidades de um mundo moderno atravessou rapidamente um cabedal de assuntos cotidianos da humanidade invejável. Assim, deparamo-nos com diversas facilidades e posteriormente com seus dilemas. Não me cabe aqui, ainda que sucintamente, aventurar-me pelas áreas "desafins" com meu conhecimento de berço, a biologia. Cabe um levantamento a título de provocação sobre a bioética e a tecnologia associada às ciências biomédicas. GATTACA, na minha modesta opinião, é um filme visionário, denso, rico em propostas de discussão, múltiplos olhares sobre o mesmo objeto, no caso, a seleção de características. Temo ao fim do filme que vejamos em um futuro não sei quão distante, que casais cheguem a uma clínica de FIV (ou abram seu email) e receba um "book" com seus prováveis filhos. Cada um, com fotos em diversas poses, em diversas idades e com uma espécie de currículo, inato, proveniente de suas células. Todo filho seria produto do imaginário dos pais mas características de suas famílias. Ou não. Existem possibilidades interessantes e já disponíveis para seleção de genes, silenciamento de genes, intensificação de traços, escolhas com base no desejo hegemônico de beleza, de força de trabalho, de inteligência. Um mundo de válidos, na trama de Andrew Niccol. Toda essa celeuma está implantada e em vigor, com grau incipiente mas com grande energia potencial, pronta para despencar. Quem regulará o alcance da técnica? E se alguns fizerem em outros não? Seguimos o modelo hegemônico euroamericano e neoliberal e deixamos toda essa tomada de decisão para o cidadão? Ou esbarraremos nas barras dos tribunais e dos corrompidos e desinformados legislativos, recheados de seus lobbies endinheirados? E a Academia? Eu me pergunto desde que comecei a aprender sobre  bioética. Como deve proceder a Academia? Discutir entre seus muros e se contentar com os poucos ouvidos, sempre os mesmos? Passar para a ação? Mas como?
Sei que deixo meu texto mais com dúvidas do que com respostas, talvez fruto do meu amadorismo, da minha precocidade em debater ou quem sabe até porque estou correto. Há mais dúvidas do que certezas. Mas enquanto isso - nas Cingapuras, Islândias, Califórnias, - geneticistas, médicos e biomédicos  (e seus investidores) desenvolvem técnicas dilemáticas, praticam-nas, vendem-nas, amparados pela insegurança jurídica, carência de informação científica e inocência do saber popular. Depois, experenciamos a profética frase de Léo Jaime em "AIDS", da década de 1980: "é a nova moda que veio de Nova York/ deve ser bom como tudo que vem do norte". É só esperar chegar em São Paulo.

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