O avanço científico
nos pegou de todos os lados. As comodidades de um mundo moderno atravessou
rapidamente um cabedal de assuntos cotidianos da humanidade invejável. Assim,
deparamo-nos com diversas facilidades e posteriormente com seus dilemas. Não me
cabe aqui, ainda que sucintamente, aventurar-me pelas áreas
"desafins" com meu conhecimento de berço, a biologia. Cabe um
levantamento a título de provocação sobre a bioética e a tecnologia associada
às ciências biomédicas. GATTACA, na minha modesta opinião, é um filme
visionário, denso, rico em propostas de discussão, múltiplos olhares sobre o
mesmo objeto, no caso, a seleção de características. Temo ao fim do filme que
vejamos em um futuro não sei quão distante, que casais cheguem a uma clínica de
FIV (ou abram seu email) e receba um "book" com seus prováveis
filhos. Cada um, com fotos em diversas poses, em diversas idades e com uma
espécie de currículo, inato, proveniente de suas células. Todo filho seria
produto do imaginário dos pais mas características de suas famílias. Ou não.
Existem possibilidades interessantes e já disponíveis para seleção de genes,
silenciamento de genes, intensificação de traços, escolhas com base no desejo
hegemônico de beleza, de força de trabalho, de inteligência. Um mundo de
válidos, na trama de Andrew Niccol. Toda essa celeuma está implantada e em
vigor, com grau incipiente mas com grande energia potencial, pronta para
despencar. Quem regulará o alcance da técnica? E se alguns fizerem em outros
não? Seguimos o modelo hegemônico euroamericano e neoliberal e deixamos toda
essa tomada de decisão para o cidadão? Ou esbarraremos nas barras dos tribunais
e dos corrompidos e desinformados legislativos, recheados de seus lobbies
endinheirados? E a Academia? Eu me pergunto desde que comecei a aprender sobre
bioética. Como deve proceder a Academia? Discutir entre seus muros e se
contentar com os poucos ouvidos, sempre os mesmos? Passar para a ação? Mas
como?
Sei que deixo meu texto mais com dúvidas do que com
respostas, talvez fruto do meu amadorismo, da minha precocidade em debater ou
quem sabe até porque estou correto. Há mais dúvidas do que certezas. Mas
enquanto isso - nas Cingapuras, Islândias, Califórnias, - geneticistas, médicos
e biomédicos (e seus investidores) desenvolvem técnicas dilemáticas,
praticam-nas, vendem-nas, amparados pela insegurança jurídica, carência de
informação científica e inocência do saber popular. Depois, experenciamos a
profética frase de Léo Jaime em "AIDS", da década de 1980: "é a
nova moda que veio de Nova York/ deve ser bom como tudo que vem do norte".
É só esperar chegar em São Paulo.
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