segunda-feira, dezembro 28, 2009

Avatar e a COP-15

Fui ao cinema e vi. Gostei do que vi. São quase três horas (incluindo os traillers e as propagandas) mas não demorou a passar. O filme não é só um grande espetáculo visual, tem sustento nas entrelinhas, tem moral na história. A ideia exploratória sem limites e sem olhar o outro lado tem lastro na história recente da humanidade. Os na'vi (o povo gigante e azul) poderiam ser tupinambás, incas ou coroados. Têm língua própria, costumes próprios, relações sólidas de respeito com a natureza. Do lado humano, duas facções: uma preocupada com a ciência e com os impactos naturais e outra, militarizada com a fixa ideia de atender os investidores e o mercado exigente. Entre os povos, Pandora, a terra de samambaias gigantes, cogumelos bioluminescentes e uma fauna excêntrica. Pandora de árvores cujas raízes realizam sinapses entre elas transformando a terra em cérebro, materializando a ideia de James Lovelock, a hipótese Gaia, a terra como um superorganismo.


Demonstrando o descaso da humanidade com a causa ambiental, o lançamento do filme coincidiu com o final da Copenhagen-15 (2009), que deveria substituir Quioto (1997). Um fiasco. Na Dinamarca e em Pandora, o que se viu foi uma vitória a mais dos exploradores desenfreados dos novos recursos naturais, sem a preocupação de investigar, programar e reduzir. A ciência deve existir para melhorar a qualidade de vida, entender fenômenos, defender a natureza e democratizar o conhecimento. Diante de toda distorção criada pela ascensão meteórica do ritmo e do padrão de vida, outros instrumentos se aliaram ao prazer de descobrir: o dinheiro e a cobiça. Precisamos viver melhor, sempre, mas com respeito às outras coisas do mundo. Podemos criar, recriar, combinar, desfazer, fazer, mudar, imaginar. Nossa mente permite uma infinidade de soluções e inovações mas nem sempre elas deveriam ser factíveis se olhássemos pelos olhos mais de 2 milhões de espécies que coabitam nosso planeta. Acho que cada ser humano deveria ter seu avatar para andar na natureza e conhecer, como no caso do protagonista da história de James Cameron. Alguns precisam disso com mais urgência do que outros.

Salvem Pandora! Salvem o mundo!

Nenhum comentário:

O ensino-anfioxo

Provavelmente todos os professores de biologia brasileiros vão morrer sem ver um anfioxo. Mas passam mais tempo falando de...