terça-feira, abril 28, 2009

A influenza porcina

Se perguntarem sobre a viúva Porcina alguns vão lembrar de um grande sucesso de uma rede brasileira de televisão, uma novela chamada Roque Santeiro. Porcina significa "suína". Influenza significa gripe. Influenza porcina significa preocupação mundial.

Em 1918, a Gripe espanhola matou mais de 50 milhões de seres humanos. Foi um marco na história. A lição sempre nos traz a mente o pensamento: pode acontecer de novo. Com a pneumonia asiática e a gripe aviária, as autoridades mundiais demonstraram seus receios e suas armas para impedir uma pandemia com alto grau de letalidade. O que é uma pandemia?

Uma doença pode viver três quadros de ocorrência. Na endemia, o número de casos é constante ao longo do tempo e a doença está circunscrita em determinada área. Na epidemia, o número de casos aumenta com o tempo e se alastra pela vizinhança. Na pandemia, a doença ultrapassa o continente de origem atingindo outros, preocupando ainda mais. Na época da gripe espanhola, a migração humana derivada do evento da Primeira Guerra Mundial foi o motor para o espalhamento. Hoje, as facilidades de deslocamento – particularmente por meio da aviação – colocam a humanidade em alerta. Um espirro em Monterrey torna-se um espirro em Madrid ou em São Paulo poucas horas depois.

O vírus em questão não é desconhecido. Trata-se do influenza vírus H1N1. As letras dizem respeito aos genes de duas proteínas importantes para a infecção: a hemaglutinina (H) e a neuroaminidase (N). Há dezesseis variações conhecidas para a primeira e nove para a segunda. O vírus apresenta as variações nº1 para ambas. Estão entre as poucas variações que encontram no epitélio respiratório humano um lar, um incubador para a reprodução.

O H1N1, como todos os influenza vírus, é um vírus de RNA. No entanto, não é um retrovírus. As cópias do RNA funcionam logo como RNAm, sendo então traduzidos pela maquinaria da célula hospedeira. Não há formação de DNA no ciclo. Um dos outros genes do genoma viral codifica a RNA polimerase. Não há DNA polimerase, nem transcriptase reversa, enzimas importantes para outros tipos de vírus. A OMS resolveu usar o nome do vírus para o nome da gripe, depois que os criadores de porcos reclamaram. A recomendação é de que a gripe seja chamada de "novo H1N1".

A incubação da doença vai de 3 a 7 dias. A fase de transmissão vai de 2 a 5 dias. Portanto, a pessoa pode não estar manifestando a doença e já transmiti-la. Uma cena no aeroporto de Tóquio que assisti ontem em que pessoas passam por um leitor de temperatura e todas aquelas que apresentem febre são interpeladas não é uma medida de exclusão total da entrada da doença no país.

O sintomas todos conhecem: febre, dores no corpo, dor de cabeça, espirros, indisposição. Remédio? Antivirais e auto-ajuda imunológica.

O que mais preocupa é o índice de mortalidade. Os vírus da gripe apresentam uma mortalidade em torno de 0,5%. O novo H1N1 apresenta uma mortalidade de 6%. Doze vezes maior! Se atingisse 1 bilhão de humanos teríamos 60 milhões de mortes, mais do que na Gripe Espanhola, há quase 100 anos. Seria um caos. Numa escala de seis em termos de código de segurança para doenças, as autoridades internacionais de saúde recomendam o nível 5, ou seja, admite-se que haja o contágio entre humanos e que se tornou uma pandemia - uma vez que já há casos na Europa e na Ásia. Na contramão das notícias, laboratórios americanos não acreditam no potencial do vírus em relação à sua mortalidade e atribuem as mortes no México ao despreparo para a doença e o consequente atraso no tratamento com antivirais que poderiam ter salvado aquelas vidas.

Não podemos nos descuidar, mas sem desespero e falsos alarmismos.

Vai dar tudo certo.

7 comentários:

natalia disse...

Não entendo bem a vantagem de um vírus ser um 'retrovírus'. Há alguma?

professor lasneaux disse...

Não. Trata-se de diversidade.

Raisa disse...

mto boa a postagem. Logo q apareceu a noticia nos jornais já estava querendo saber se era de DNA ou RNA. Obrigada professor por nos manter sempre bem informados c/ a atualidade.

Anônimo disse...

Chará , se utilizarmos um remédio para que o gene do virus não se mutiplique na célula , mesmo assim a pessoa continua sendo portadora e poderá transmitir a doença à outras pessoas?

=) O blog está muito bom mesmo! hehehee Abração!!!

professor lasneaux disse...

Há algum risco mas ele é sensivelmente menor.
Abraços!

Anônimo disse...

Na verdade são 16 tipos diferentes da proteína hemoglitinina (H) e 9 tipos da proteína neuraminidase(N)

professor lasneaux disse...

Corrigido a tempo(eu espero)! Obrigado!

O ensino-anfioxo

Provavelmente todos os professores de biologia brasileiros vão morrer sem ver um anfioxo. Mas passam mais tempo falando de...