segunda-feira, abril 28, 2008

Um pouco de sistemas sangüíneos

Há mais de 15 sistemas sangüíneos diferentes conhecidos a partir de 1900, desde o pioneirismo do austríaco Karl Landsteiner (mais um laureado com o prêmio Nobel, em 1930). O mesmo Landsteiner descobriu em 1939, depois do prêmio que recebeu, o sistema Rh, também chamado hoje de Sistema D.

Landsteiner descobriu o sistema quando, investigando um aborto, percebeu que a mãe do natimorto aglutinava 77% do sangue dos doadores compatíveis para si levando em conta apenas o sistema ABO. Surgia um novo sistema.

Eu usei o termo "aglutinava" acima. Para quem já realizou em uma lâmina de vidro os testes de anti-A, anti-B e anti-D (anti-Rh) sabe o resultado visual dos dois primeiros é diferente do terceiro. Para os dois primeiros casos, há aglutinação nítida (quando o antígeno estiver presente, é óbvio). Quando há reação com o anti-D, o resultado tem aspecto diferente. Parece que a lâmina fica cheia de uma espécie "areiazinha". É a reação hemolítica, antecipada por alguma aglutinação.

Na dúvida de usar o termo "aglutinar" para ambas as incompatibilidades, consultei vários "especialistas": os livros. Nos de ensino médio, pude perceber muito receio que cutucar a onça. Nos de hematologia, ponto para a aglutinação. Nos de imunologia, mais pontos para aglutinação!

Conclusão:

Sistema

Aglutinógenos

Aglutinogênios

Antígenos

Aglutininas

Anticorpos

ABO

A e B

Anti-A

Anti-B

Rh

Fator D ou Rh

Anti-D ou anti-Rh

MN

M e N

Anti-M e anti-N


Algumas questões.

1. Crides, com sangue A, cujos pais eram heterozigotos para o sistema ABO e produziam o mesmo tipo de aglutinina, casou-se com Dinésia, de sangue B, cujos pais também eram heterozigotos para o sistema ABO e podiam doar sangue para a filha. Sabendo que todos os indivíduos citados possuem o fator Rh em suas hemácias, mas apresentam o alelo para o sangue Rh-, calcule a probabilidade de o segundo filho do casal não apresentar sangue O e poder gerar em seu ventre, na fase adulta, uma criança que desenvolva eritroblastose fetal. (Dê a resposta em porcentagem e despreze a parte fracionária).


2. Um homem com sangue A Rh+ MN casa-se com uma mulher B Rh MN, que nunca recebeu transfusão sanguínea nem engravidou. O primeiro filho do casal não pode receber transfusão de nenhum de seus pais. O segundo filho não pode produzir aglutininas em relação aos sistemas sanguíneos analisados. O terceiro filho apresentou eritroblastose fetal ao nascer, diferente dos irmãos. Considerando esta família e seus conhecimentos em genética, julgue os itens.

a) Quais os filhos desse casal que apresentam o fator Rh em suas hemácias. Justifique.

b) Pode-se afirmar corretamente que o primeiro filho do casal apresenta sangue O? Justifique.

3. Estrongilda, portadora das aglutininas anti-A, anti-B e anti-Rh, casou-se com Severino James, portador dos aglutinogênios A e B e do fator Rh. Sabendo-se Severino James teve um irmão com a doença hemolítica do recém-nascido, conclui-se que a probabilidade de o casal ter uma filha Rh positivo com sangue tipo A é:
a) 9/16

b)3/16
c) 1/4
d) 1/8
e) 1/2

4. Pode-se usar o sistema ABO para "excluir" um suposto pai em uma investigação de paternidade. Para tal, basta determinar o fenótipo e o genótipo do suposto pai e, por comparação com os fenótipos e genótipos do filho e da mãe, verificar se o homem acusado pode ser considerado como um pai impossível. Indique o(s) pai(s) impossível(eis) nas situações a seguir:
a) mãe (B - IBi) e filho (A – IAi).
b) mãe (AB - IAIB) e filho (AB - IAIB).
c) mãe (B - IBi) e filho (O – ii).

Gabarito comentado.

  1. Resposta = 011

    Solução:

    Use o método destrutivo, calcule a chance de surgir um descendente "O"

    Os pais são IA_ Rr e a mãe IB_ Rr. A chance de cada um deles ser heterozigoto é de 2/3.

    Lembre-se que eu já sei que são do grupo A e B, respectivamente.

    IA

    i

    IA

    IA IA

    IAi

    i

    IAi

    Ii (ele não pode ser...)


    (use o mesmo raciocínio para os pais de Dinésia...)

    Assim, a chance de um descendente "O" ficará: 2/3 x 2/3 x ¼ = 1/9

    Agora podemos ir para a solução do problema. A questão quer um descendente que não seja O (1 – 1/9 = 8/9), que seja feminino (1/2, lembre de "gerar em seu ventre (...)" e, podendo ter um filho com eritroblastose fetal, ela deverá ter sangue negativo (1/4).

    A resposta é: 8/9 x ½ x ¼ = 1/9 ou 11,1111%, ou seja, 011. Acertou?


  2. Vamos analisar os indivíduos em questão:
a) O segundo e o terceiro. O segundo sensibilizou a mãe. O primeiro não poderia ser positivo sem que o segundo tivesse o problema.
b) Tomando como base apenas o sistema ABO, a resposta seria "sim". Mas utilizando os três sistemas, a resposta seria "não". Ele poderia ser "A" negativo e então não poderia receber nem do pai (por causa do sistema Rh) e nem da mãe (por causa do sistema ABO).


3. Letra "D"
Estrongilda é iirr
Severino James é IAIBRr (teve um irmão com eritroblastose portanto sua mãe é Rh negativo, 'rr').
Sendo assim, a chance de uma menina, Rh positivo e sangue A vai ser de:
½ x ½ x ½ = 1/8

4.

A) IB_ e ii
B) ii
C) IAIA, IBIB e IAIB.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor,
queria te agradecer por todo esse semestre de dedicação...
Sua aula é excelente! Torço muito pra que seus planos (principalmente o livro) deem certo!
Obrigada por todo o carinho que teve com seus alunos.
Ass: Carol (sala 4 tarde )

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