Quando a jornalista Rebecca Skloot começou sua longa jornada sobre Henrietta Lacks tenho a impressão de que ela não tinha a dimensão do tamanho do que estava por vir.
Henrietta morreu no dia 04 de outubro de 1951, aos 30 anos de idade, vitimada pelo câncer. Os tumores se espalharam e atingiram sua uretra, impedindo a eliminação de urina, o que gerou uma intoxicação irreversível. Negra e pobre teve tratamento até razoável para o que destino lhe reservou em uma cidade próxima de Baltimore, EUA, uma época em que a discriminação imperava implacável.
Quando procurou ajuda no hospital Johns Hopkins, um médico retirou-lhe dois pedaços de tecido do colo do útero: um deles era cancerígeno. As células retiradas foram enviadas para o pesquisador George Gey, que tentava há algum tempo, cultivar células humanas em laboratório. Todas as tentativas até então tinham sido infrutíferas. Dessa vez, foi diferente.
As células HeLa foram assim chamadas pelas iniciais do nome da paciente Henrietta Lacks. Elas eram incrivelmente prolíficas, reproduziam como nada anteriormente visto. O laboratório de Gey teve de fechar parcerias para dar conta da produção das células tal a proporção que os números atingiram: não se sabe ao certo hoje, quantas dessas células foram produzidas em laboratório.
Qual o impacto disso? Qual a importância dessas células?
Pesquisa. Muita pesquisa. A mais inicial e impactante foi a do desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a pólio: a vacina Salk. O Dr. John Salk testava sua vacina em macacos. As células HeLa tornaram-se uma alternativa mais barata e mais eficaz para testar vacinas, uma vez que as células mostravam-se bem susceptíveis ao vírus. Foi também graças a essas células que finalmente colocamos um fim na determinação do número de cromossomos humanos. Até essa época, acreditava-se que tínhamos 48 cromossomos! Os estudos feitos com elas revelou que tínhamos na verdade 46. As terapias anti-câncer evoluíram muito com base nos estudos dessas células. Elas são comercializadas para o mundo todo e os laboratórios ganham verdadeiras fortunas com as vendas. Mas... de quem são essas células mesmo?
Na biópsia realizada em 1951, as células foram retiradas sem o consentimento da paciente. Nem dela, nem de seus familiares. Henrietta morreu e suas células não. Esse ano (estamos em 2011) elas completam 60 anos em agosto. O dobro do que viveu sua dona. A família nunca recebeu um tostão sobre a os valores da comercialização. Eles merecem? Ou tudo pela medicina? E os laboratórios? Merecem todo o lucro? Podemos fazer uma espécie de patente de nós mesmos para evitar que essa história se repita?
Quer ler mais? Acesse: http://www.nytimes.com/2011/02/05/books/05lacks.html?_r=1
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