Já estou falando em fracasso novamente. Agora, meu alvo é um pequeno e amistoso mamífero, habitante das florestas úmidas da Ásia. Sim, o coala! Esse pequeno amigo é muito restritivo em sua dieta. Come apenas folhas de trinta espécies de eucaliptos, mas não é só. Apenas as folhas mais jovens, com certa textura. Que paladar refinado!
Tamanha restrição coloca os coalas em uma perigosa encruzilhada. As folhas deliciadas por vossa senhoria são impalatáveis para a maioria dos seres vivos. Elas apresentam uma química toda própria que evita outras espécies de herbívoros. Assim, os coalas reinam absoluto no reino das iguarias "eucaliptidianas". Mas... (tem sempre um "mas", não é mesmo?)
Quem come só pão-de-ló quando não tem pão-de-ló faz o quê? A especialização do nicho ecológico dos coalas fez com que eliminassem totalmente a competição interespecífica. Dessa forma, a seleção natural foi cordial com eles, premiando-lhes com o sucesso. Mas ficaram reféns de sua obra-prima. A habilidade de degustar o que é veneno para muitos tornaram ineficientes na tarefa digestiva sobre outros alimentos. Agora, com a devastação das florestas na Ásia, estão vendo todo sua virtude virar defeito. Aprimorar demais pode significar se extinguir.
Olhando assim para a situação poderia dizer para você, caro paciente leitor, que deveríamos mesmo era estar olhando para o espelho. O sujo falando do maltrapilho. Estamos atrasados mas caminhando para a mesma encruzilhada. A globalização também tem seus ledos problemas. Somando a dieta da maioria dos seis bilhões de seres humanos estamos ingerindo algo em torno de 150 espécies vegetais. É pouco, amigo, perigosamente pouco. Poderíamos ser muito mais diversificados, visto que existem mais de 230 mil espécies de plantas frutíferas. Forjados pela propaganda das indústrias alimentícias, dos acordos econômicos, da TV, do cinema e mais recentemente da internet tratamos de abdicar dos regionalismos e atacamos de cultura de massa (Salvem as sopas Campbell!). Serenamente nos tornamos cada vez mais restritivos. Nada de pequi, baru, carambola, cajuzinho do cerrado, seriguela, camu-camu, etc. O negócio é banana, maçã e morango. Arroz, feijão, milho e soja. Um punhado de hortaliças (cada vez menos!) e pronto. Traiçoeiro esse caminho.
Caminhando lado a lado com os coalas. Pode parecer boa ideia, mas receio que não seja.
3 comentários:
Professor, o comentário não tem nada a ver com a postagem, que por sinal ficou bem legal, mas vai ser feito aqui pq não consegui achar um email pra contato.
Só queria lembrar de vce colocar no blog a famosa foto da sua formatura =D
Abração, Pedro
PROFESSOR, gostei muito do feito e
dito em suas técnicas e brilhantes
palavras que muito ilustram o nicho
dos ex...extintos coalas.
um abraço
Landim
Muito obrigado! Os coalas também mandam agradecer!
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