Provavelmente todos os professores de biologia brasileiros
vão morrer sem ver um anfioxo. Mas passam mais tempo falando dele do que de ratos, gatos e cães.
O Brasil recebeu em 2006 um certificado de erradicação de
transmissão vetorial de Chagas, mas falamos mais de Chagas do que de
obesidade ou câncer.
Falamos
de ascaridíase, enterobiose e filariose e não falamos profundamente sobre sal,
açúcar e gordura. Falamos de bócio endêmico e beribéri e não usamos tempo
suficiente com anemias, hemogramas, escoliose, câncer de pele, sedentarismo,
dieta, higiene sexual, sobre o SUS, sobre as políticas de saúde.
Sim. Não ligamos a política da saúde à saúde. Não sabemos as garantias básicas constitucionais para a saúde [e nem para a educação]. Não sabemos como surgiu o SUS, nem para quê. Como surgiu a ANVISA. Mas nos "interessamos" por glândulas coxais e amebócitos.
Ninguém leu completamente o “Origem das espécies” de
Charles Darwin. Ninguém discute o impacto dessa obra em outras áreas. Todos falamos mal de Lamarck e nem sabe ao certo se isso ;e boataria, fake news.
Ninguém liga as questões de raça com a biologia emergente do século XIX, a biologia a serviço do totalitarismo.
Ninguém fala de neurociência. Deixamos que nossos alunos sejam fisgados por livros de auto-ajuda e por "mentores" e "coaching". Ninguém fala de ansiedade,
depressão, seus medicamentos. Ninguém lê os relatórios da Anvisa sobre os
alimentos e medicamentos, ou o dossiê da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
Ninguém encara os transgênicos e os inseticidas. Ninguém sabe lidar com
engasgo, parada respiratória, parada cardíaca, sangramentos simples,
queimaduras.
Mas decoram a embriologia do anfioxo.
O ensino-anfioxo é o retrato da moribunda educação
tradicional.